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30 anos revista MACAU

30 anos revista MACAU: O arranque da missão chinesa

July 7, 2017

30 anos revista MACAU: O arranque da missão chinesa

capaEstava-se em plena Revolução Cultural em 1968, quando Qiang Xuesen, considerado o pai do programa espacial chinês, apresentou à liderança do Partido Comunista Chinês um plano de levar ao espaço dois astronautas, em 1973. Dada a situação política, tal não foi possível. E só no século XX haveria condições para levar adiante tal projecto, conforme conta José Carlos Matias, na edição de Março de 2006 da revista MACAU.

A primeira missão bem-sucedida ocorreu em 2003, com o astronauta Yang Liwei a subir ao espaço na missão Shenzhou V. A segunda missão espacial tripulada da China aconteceu em 12 de Outubro de 2005 e permaneceu em órbita durante cinco dias com dois astronautas a bordo: Fei Junlong e Nie Haisheng. “Para trás ficaram quatro missões não tripuladas e o lançamento de dezenas de satélites científicos; de comunicações; de observação; de navegação e meteorológicos”, lê-se no artigo. A lua é o próximo alvo, com os especialistas a apontarem para 2020 como “a data provável para a primeira missão tripulada ao solo lunar”. Entretanto, antes dessa missão, Pequim “ambiciona desenvolver um laboratório espacial que possa evoluir para uma estação espacial”, concretizando, assim, um “projecto delineado em 1968 por Qiang Xuesen”.

Seria já então a China uma potência espacial emergente? Jason Pun, professor no departamento de Física da Universidade de Hong Kong e antigo funcionário da NASA (Agência Espacial Norte-Americana), citado no artigo, considera que “talvez seja ainda cedo”. “Se nos restringirmos aos países que já colocaram seres humanos no espaço, é claro que os chineses passaram a integrar um clube do qual só faziam antes parte os Estados Unidos e a ex-União Soviética. Mas se englobarmos outras actividades, desde o lançamento de satélites à exploração espacial, temos também de salientar o papel desempenhado pela União Europeia”, alerta. Ainda assim, a China aparecia já então como “cumpridora do calendário das missões previstas”, algo que “nem os norte-americanos conseguiam”.

Numa fase inicial, ”as contribuições mais significativas [para o programa espacial chinês] vieram da antiga União Soviética, quando, antes do cisma sino-soviético, os dois países cooperavam em várias matérias, incluindo na tecnologia espacial. E, diz o autor, “o entendimento sino-russo poderá levar à colaboração numa missão lunar dentro de menos de 20 anos, ou mesmo à construção de um satélite que possa ser colocado em órbita em torno de Marte.“ Mas as parcerias no desenvolvimento de satélites acabam por dar-se com o Brasil e a União Europeia.”

Uma das ambições do programa espacial chinês era a criação de um sistema autónomo de satélites de navegação e posicionamento. “A China tem apenas um sistema de três satélites que, ao contrário do GPS norte-americano, do GLONASS russo e do Galileo europeu — ainda em fase de lançamento de satélites — não oferece graus de posicionamento precisos à escala global”, lê-se no artigo de 2006. “É nesse contexto que a China iniciou a participação no Galileo, patrocinado e desenvolvido pela União Europeia (UE) e pela Agência Espacial Europeia (AEE).” Mas essa participação levantava suspeitas por parte dos norte-americanos e dos europeus de que houvesse então uma ambição de projecção de poder.

Primeiras páginas do artigo “O grande salto” do jornalista José Carlos Matias. Pode ler aqui o trabalho completo.

 

[Este texto faz parte de uma série do Extramuros em que se recuperam alguns dos momentos que marcaram as três décadas da revista MACAU, uma das mais antigas publicações em língua portuguesa ainda em circulação]

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