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30 anos revista MACAU

30 anos revista MACAU: Os ventos da fortuna

July 3, 2017

30 anos revista MACAU: Os ventos da fortuna

O corpo central do edifício original do Hotel Lisboa faz lembrar uma gaiola, e isso simboliza que “a fortuna que entra no casino aí ficará retida”. Num artigo publicado em Julho de 2000 na revista MACAU, Luís Ortet revela tudo o que está por detrás do feng shui ou geomancia chinesa, numa altura em que começava a estar “na moda” no Ocidente.

O Hotel Lisboa é apenas um entre vários edifícios de Macau que seguem os ditames da geomancia chinesa. Note-se, por exemplo, “o alpendre da entrada principal para o hotel, em forma de asas de morcego (um animal com conotação benéfica, entre os chineses”).

Mas este é apenas um dos aspectos “mais superficiais e pitorescos de uma curiosa tradição chinesa”.

O feng shui é “um conjunto de regras visando a correcta orientação e enquadramento espacial dos edifícios, bem como o adequado aproveitamento dos seus espaços interiores, tudo isso visando uma correlação harmoniosa e benéfica com o meio circundante”. Segundo esta crença, “a superfície da Terra é percorrida por energias invisíveis, umas benéficas, outras maléficas, que influenciam positiva ou negativamente dos seres humanos”, cabendo ao feng shui “realçar as energias positivas e desfazer ou evitar as negativas”.

O autor revela ainda que “um praticante de feng shui sabe, por exemplo, que do lado direito da entrada de qualquer edifício situa-se sempre uma energia especial conhecida como tigre branco, enquanto que do lado esquerdo está o dragão verde”.

E, citando Lilian Too, uma autora de um dos maiores best sellers em língua inglesa sobre feng shui, Luís Ortet diz que “é vital ter a certeza de que a ferocidade do tigre nunca é provocada ou virada contra os residentes”. Isso significa que “o solo no lado direito da casa ou do jardim deve ser ligeiramente mais baixo do que o situado no lado esquerdo”. Aliás, terá sido isso que “preocupou” muita gente, quando foi construído o edifício do Banco da China, que era então o mais alto de Macau, “situado no lado do tigre branco” do Hotel Lisboa.

Outro ponto curioso da geomancia chinesa é o desagrado pela linha recta, tratando-se de “uma forma não natural, portanto agressiva”. Aliás, no início do século XX quando Macau foi “rasgada por uma Avenida nova [Almeida Ribeiro] a “população mais crente” queixou-se, alegando de que se tratava de uma “espada decepando um membro ao dragão da cidade”.

Um outro caso conhecido referido no artigo prende-se com a escadaria da então Universidade de Macau, por configurar “um arco côncavo, semelhante a um túmulo chinês”. Por outro lado, um caso de “bom feng shui”, como destaca o autor, é o Templo de A-Ma, na Barra. “De facto, o Templo de A-ma constitui um verdadeiro tratado da geomancia chinesa, já que a sua localização está de acordo com as principais regras do feng shui, entre as quais a regra de ouro de que um lugar protegido pelo bom feng shui deve ter uma montanha por detrás e a água em frente”, escreve o autor.

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Imagem que acompanha o artigo “Ventos da fortuna” sobre o feng shui – Revista MACAU, Série II, Julho 2000

 

[Este texto faz parte de uma série do Extramuros em que se recuperam alguns dos momentos que marcaram as três décadas da revista MACAU, uma das mais antigas publicações em língua portuguesa ainda em circulação]

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